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Fotoproteção
INTRODUÇÃO
O sol é a fonte de energia fundamental que permite a existência da vida na terra. Quase todos os ciclos biológicos conhecidos dependem, direta ou indiretamente, de seus subprodutos, a luz visível, radiação infravermelha e radiação ultravioleta(RUV).
Estes subprodutos são a fonte energética da fotossíntese e de toda a cadeia alimentar estruturada a partir dela. pouquíssimosseres vivos conseguem sobreviver sem radiação solar e, quando o fazem, se resumem a sítios muito específicos como bactérias autotróficas e quimioautotróficas.
Outro aspecto importante é que dependemos da radiação solar para nosso próprio metabolismo. A exposição à radiação ultravioleta A(UVA) é importante na calcificação óssea e, portanto, na prevenção da osteoporose. A luz visível influencia diretamente o ciclo circadiano, comandando a liberação de hormônios como a melatonina e o cortisol endôgeno pelas glândulas supra-renais. Várias das enzimas celulares celulares encarregadas da regeneração do DNA após exposição a RUV são fotoativadas, ou seja, dependem da presença de luz visível para atuarem. Se observarmos este fato sob uma perspectiva evolutiva ele faz todo sentido, uma vez que na natureza a RUV sempre se acompanha da luz visível.
A radiação solar vai mais longe ainda e, provavelmente, ajudou a definir características físicas das diversas raças humanas. Acredita-se que a pele negra, muito prevalente em populações originárias dos trópicos, ajudava na fotoproteção em um passado remoto. Da mesma forma, a coloração da íris e dos cabelos tinha função similar. A pele branca desenvolvida por populações de áreas com baixa insolação é, muito provavelmente, uma adaptação à necessidade de incrementar a captação do UVA na prevenção da osteoporose. Desenvolveu-se, em uma população originalmente de origem africana, como uma resposta biológica às necessidades ambientais.
O progressivo aumento das atividades ao ar livre, as constantes migrações que colocaram pessoas claras vivendo em climas tropicais e equatoriais, além do aumento das jornadas de trabalho, facilitaram o surgimento de fotossenescência e do câncer de pele. Basta lembrarmos que até o início do século passado a exposição ao sol era desencorajada. Visto que a pele bronzeada era associada com trabalho braçal.
O termo “sangue “azul” deriva do fato da nobreza apresentar a pele sempre muito clara onde os vasos podiam ser facilmente visualizados com a sua habitual coloração azulada.
Para evitarmos os efeitos indesejáveis da ação solar sobre a pele existem três alternativas: Evitar o sol, usar roupas fotoprotetoras e usar protetores solares físicos e químicos. As duas primeiras alternativas requerem mudanças profundas de hábitos e a última tem custo relativamente alto, requer disciplina e não oferece proteção total contra o aparecimento de câncer cutâneo. De qualquer forma, como no passado remoto, mais uma vez a adaptação é o conceito-chave. Para evitarmos muitos dos malefícios da radiação solar, está sendo cada vez mais necessário efetuar determinadas mudanças comportamentais que, em regra geral, tem procurado diminuir a freqüência e o tempo de exposição à mesma.
A RADIAÇÃO SOLAR
A radiação solar é composta por radiações de diversos comprimentos de ondas, o chamado espectro eletromagnético. Quase 99% deste espectro é composto pela chamada radiação não-ionizante, composta por raios ultravioleta(5%), infravermelhos(60%) e luz visível(35%). A fotobiologia é a área que estuda a interação desta radiação não ionizante sobre os seres vivos.
O espectro de radiação que atinge a pele está situado entre 290 e 700 nm, uma vez que a camada de ozônio bloqueia boa parte da radiação ultravioleta C (UVC – 200 a 290 nm) antes de atingir a terra.
Ao aconselharmos os pacientes a usarem protetores solares é importante lembrá-los que somos “irradiados” pelo UV através dos raios incidentes ( que vêm da atmosfera) e dos raios refletidos na superfície terrestre. Assim, através da reflexão, a água aumenta a intensidade da irradiação em 5% a areia aumenta 25% e a neve, aproximadamente 85%.
O uso de clorofluorcarbonetos como propelentes a na indústria provocou, nas últimas décadas, uma progressiva redução na espessura da camada de ozônio. Estes compostos apresentam uma avidez enorme pela forma reativa de oxigênio presente no ozônio (O3), formando moléculas extensas e pesadas que aprisionam-no. A diminuição da concentração relativa significa uma perda gradativa do escudo protetor do planeta contra a radiação solar, com conseqüente aumento da intensidade da radiação que atinge a superfície terrestre. Para cada 10% de diminuição da camada de ozônio calculam-se um aumento de 300 mil casos de carcinomas de pele. Para cada 1% de diminuição deste escudo, o incremento dos casos de cegueira por catarata podem atingir 100 mil pessoas. De acordo com a Environmental Protection Agency (EPA), dos EUA, uma diminuição de 5% da camada de ozônio pode acarretar um aumento de 5 a 8% nos caos de melanoma, 10% nos casos de carcinomas basocelulares e 20% nos casos de espinaliomas.
De acordo com a diminuição da porcentagem da concentração integrada do ozônio na atmosfera há um significativo aumento da intensidade da radiação ultravioleta.
Tabela 5.1
Aumento da radiação UV por Diminuição do Ozônio
Diminuição do Aumento da Intensidade
Ozônio(%) RUV(%)
1 2,5
2 5,2
5 13,6
10 29,0
30 115,0
Fonte: INPE(Instituto nacional de Pesquisas Espaciais)
O UVB-index é o parâmetro utilizado para definir a intensidade de radiação a que a população está exposta na faixa da radiação ultravioleta B (UVB). Tem grande importância por ser uma medida de referência anual, o que possibilita estimar cientificamente a intensidade da radiação UVB antes e depois da diminuição do ozônio estratosférico.
Existem níveis de intensidade que variam de zero a e podem ser enquadrados conforme os graus, apresentados na tabela 5.2.
Os aparelhos que medem o UVB-index são denominados espectrofotômetros e estão distribuídos, desde 1995, em sete cidades brasileiras, do Nordeste ao Sul: Natal, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo,Rio de Janeiro, Blumenau e Porto Alegre. Os UVB-index médios, obtidos no horário das 10 às 14 horas para o verão e inverno brasileiros nos anos de 1995-96, estão relacionados na tabela 5.3.
Tabela 5.2
Graus de Intensidade do UVB-Index
Graus UVB-index
Mínimo 0 a 2
Baixo 3 a 4
Moderado 5 a 6
Alto 7 a 9
Muito alto 10 a 15
Fonte: The Skin Câncer Foundation Journal
Tabela 5.3
Valores de UVB-Index medidos para várias cidades do Brasil(1966-97)
Cidades UVB-Index(verão)UVB-index(Inverno)
Natal - RN 8,7 9,0
Salvador - BA 9,8 8,5
Belo Horizonte - MG 11,5 7,0
São Paulo - SP 11,8 3,9
Rio de Janeiro - RJ 11,9 4,5
Blumenau - SC 11,5 3,5
Porto Alegre - RS 9,5 3,0
Fonte:INPE(Instituto nacional de Pesquisa e Estatística)
FOTOTIPOS DE PELE
Logicamente, o grau de pigmentação da pele influencia diretamente o efeito que a radiação solar terá sobre o indivíduo. Assim sendo, Fitzpatrick e cols estruturaram, no final da década de 1960, uma classificação dos tipos de pele que é utilizada de forma universal (Tabela 5.4). Nesta classificação o grau de pigmentação da pele, dos cabelos e dos olhos é analisado, conjuntamente, permitindo uma subdivisão em seis fototipos de pele. Trata-se, obviamente, de uma classificação acadêmica e, até mesmo criticável visto a grande combinação de diferentes fenótipos na espécie humana. Tem, no entanto, o grande mérito de uniformizar os diversos fototipos em uma forma inteligível.
Com base na avaliação do tipo da pele foi possível se qualificar o efeito deletério da UVB pelo eritema observado na pele, fato que originou o índice FPS(fator de proteção solar). Este tem sido o índice fundamental na mensuração da fotoproteção nos últimos 20 anos. O UVB, por agir fundamentalmente na epiderme, está intimamente associado à fotocarcinogênese cutânea.
Somente agora tem sido dado a importância necessária aos danos provocados pelo UVA. Seu espectro de radiação permite que a derme seja bastante afetada e, com isto, processa-se a chamada fotossenescência. Trata-se do envelhecimento extrínseco induzido pela UVA ao provocar danos crônicos às fibras elásticas e colágenas dérmicas. Metaloproteinases, como a colagenase IV, formadas secundariamente este processo, perpetuam o dano actínico e amplificam os efeitos do UVA. O efeito deletério induzido pelo UVA adiciona-se ao envelhecimento intrínseco, geneticamente determinado, relacionado com a ação das telomerases. A gerontologia tem dado os primeiros passos no sentido de reduzir os efeitos do envelhecimento intrínseco e, somente com fotoprotetores de larho espectro, poderemos controlar o envelhecimento extrínseco.
Muito da dificuldade em efetuar uma fotoproteção adequada para o UVA vem do fato de esta quase não provocar eritema. O efeito mais visível e mensurável do UVA é a pigmentação cutânea imediata, conhecida como fenômeno de Meirowsky, secundário à oxidação da melanina já sintetizada e armazenada nos melanossomos. Existem agora dois tipos de leitura para esta pigmentação imidiata: o IPD(mediação de pigmentação após 15 minutos) e o PPD(Após duas horas), sendo este um método mais rigoroso. Novamente a classificação de Fitzpatrick é útil na avaliação da pigmentação cutânea.
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